sábado, 11 de julho de 2015

O discurso histórico do Papa Francisco na Bolívia

RELIGIÃO10/JUL/2015 ÀS 16:20
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Em discurso histórico, Papa Francisco pede perdão pelos crimes da Igreja durante a colonização da América, condena a "lógica do lucro a todo o custo, sem pensar na exclusão social", chama o capitalismo de 'ditadura sutil' e tece duras críticas ao monopólio dos meios de comunicação

Papa Francisco Bolívia
Papa Francisco recebe chapéu de Evo Morales na Bolívia (Reuters)
O papa Francisco esteve na Bolívia reunido com cerca de 1.500 representantes de movimentos sociais de mais de 40 países nesta quinta-feira. O pontífice fez um discurso contra o sistema capitalista, o qual chamou de “ditadura sutil”, e pediu desculpas pelos crimes da Igreja contra indígenas na região. Ainda em Santa Cruz, visitou a prisão de Palmasola, a mais perigosa do país andino.

Capitalismo

Para o líder da Igreja Católica, o atual sistema global “que impôs a lógica do lucro a todo o custo, sem pensar na exclusão social nem na destruição da natureza (…) é insuportável: não o suportam os camponeses, não o suportam os trabalhadores, não o suportam as comunidades, não o suportam os povos…. E nem sequer o suporta a Terra, a irmã Mãe Terra, como dizia São Francisco”.
“Quando o capital se converte em ídolo e dirige as opções dos seres humanos, quando a avidez pelo dinheiro tutela todo o sistema socioeconômico, arruína a sociedade, condena o homem, transforma-o em escravo, destrói a fraternidade inter-humana, coloca povo contra povo e, como vemos, até põe em risco esta nossa casa comum”, disse o sacerdote.
Francisco considerou ainda que atual sistema é uma “ditadura sutil” e chamou os mais pobres e excluídos à ação: “vós, os mais humildes, os explorados, os pobres e excluídos, podeis e fazeis muito. Atrevo-me a dizer que o futuro da humanidade está, em grande medida, nas vossas mãos, na vossa capacidade de vos organizar e promover alternativas criativas na busca diária dos ‘3 T’ (trabalho, teto, terra), e também na vossa participação como protagonistas nos grandes processos de mudança nacionais, regionais e mundiais. Não se acanhem!”.

As três tarefas

O papa propôs aos movimentos sociais três tarefas:
1. Colocar a economia a serviço dos povos: “Esta economia é não apenas desejável e necessária, mas também possível. Não é uma utopia, nem uma fantasia. É uma perspectiva extremamente realista. Podemos consegui-la”;
2. Unir os nossos povos no caminho da paz e da justiça: nenhum poder efetivamente constituído tem direito de privar os países pobres do pleno exercício da sua soberania e, quando o fazem, vemos novas formas de colonialismo que afetam seriamente as possibilidades de paz e justiça;
3. Defender a Mãe Terra: “a casa comum de todos nós está sendo saqueada, devastada, vexada impunemente. A covardia em defendê-la é um pecado grave. Vemos, com crescente decepção, sucederem-se uma após outra cúpulas internacionais sem qualquer resultado importante.

Monopólio

O Papa Francisco também teceu duras críticas na concentração monopolista da mídia. “A concentração monopolista dos meios de comunicação social que pretende impor padrões alienantes de consumo e certa uniformidade cultural é outra das formas que adota o novo colonialismo. É o colonialismo ideológico. Como dizem os bispos da África, muitas vezes pretende-se converter os países pobres em ‘peças de um mecanismo, partes de uma engrenagem gigante”, afirmou.

Perdão

No país onde mais da metade da população se autodeclara indígena, Francisco se desculpou pelos crimes cometidos pela Igreja em nome de Deus.
“Quero ser muito claro no que vou dizer, como foi João Paulo II, para, humildemente, pedir perdão pelas ofensas da própria Igreja contra os povos originários, e também pelos injustificáveis crimes cometidos em nome de Deus durante a chamada conquista da América


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