Sarney ainda exerce influência nas decisões sobre os rumos do país
Um experiente conselheiro político, apesar de não exercer nenhum cargo público
CENÁRIO
15/11/2015 - 09h53
João carvalho Jr. Especial para O IMPARCIAL
Desde quando deixou o Senado Federal, o ex-presidente da República (o primeiro depois da redemocratização) deixou-se descansar e voltar suas atenções primárias para a família. A sua principal e única preocupação seria a saúde da mulher com quem é casado, Marly Sarney.
Sarney se afastou do mundo político com declarações que levavam os críticos a se perguntarem se ele havia cortado relações com o grupo ao qual esteve perto nos últimos 12 anos. Passados alguns meses, ele foi visto publicamente em eventos oficiais do governo federal, ao lado da presidente Dilma Rousseff, mostrando o quanto ainda tem prestígio no meio em que poucos nomes sobrevivem no topo por muito tempo. As aparições e as palavras de Sarney fazem eco nos meios de comunicação, mostram o quanto ele ainda consegue ser ouvido e decisivo em determinados assuntos.
A mais recente declaração de Sarney dá conta daquilo que todos os integrantes do PMDB maranhense vêm falando desde quando passou-se a especular qual o real posicionamento do partido em relação ao governo Flávio Dino. “O povo nos colocou na oposição. É isso que nós vamos fazer: oposição ao governo.” As palavras são quase que copiadas na íntegra pelos integrantes do partido, sejam os que mantêm a sua linha mais tranquila, sejam os que agem com mais rigidez no papel de contrário à atual gestão. Tudo bem que os correligionários já vinham dizendo antes do grande mestre, mas nada no PMDB passa sem Sarney ser informado. Nem mesmo no campo nacional.
Papel no impeachment
Desde o meio do ano, Sarney articula uma estratégia para barrar os levantes de impeachment contra Dilma. Há quem diga que ela só permanece no cargo devido à destreza dele. Pode parecer muita presunção, mas nada é difícil de acreditar. Teria sido num dos encontros para ouvir e falar à presidente, que o ex-senador ouviu os pedidos para que o partido ao qual ele está filiado ajudasse a abafar um provável pedido de saída da chefe da nação. E ele chamou a ala peemedebista em atrito com o Planalto para conversar. Conseguiu mais do que o diálogo com correligionários; aproximou-se, de novo, do PT.
Sarney é querido e inquestionável no PMDB maranhense. Consegue ser o que nenhum outro ainda conseguiu aos menos se aproximar, pensando à frente de todos. Mesmo na oposição – algo que poucas vezes se viu –, Sarney consegue manter a imagem pública serena, que parece ter contagiado a outros membros. “Eu concordo com o que disse o presidente Sarney. Somos oposição, mas fazemos oposição com responsabilidade, no sentido de fiscalização, o que temos feito. Não existe de nossa parte o sentimento de agressão pessoal”, disse o deputado estadual Roberto Costa.
Divergente da ala diretória do partido, a também deputada estadual Andrea Murad não pensa diferente de José Sarney – mesmo que seja vista como mais incisiva nos ataques ao governo. “O meu discurso contra quem está hoje no governo sempre foi o de oposição porque nunca acreditei no Flávio Dino como opção para comandar o estado. Mas o eleitorado maranhense o elegeu e respeitamos a decisão da maioria. Nós, do PMDB, eleitos pelo povo para a oposição, para a fiscalização das ações do governo, não podemos esperar e assistir calados muitas denúncias feitas pelo povo, que depende da nossa voz para ecoar no parlamento”, disse Andrea.
Chegando à metade de novembro, vemos que, de fato, o velho Sarney nunca se afastou da política. Ninguém melhor que os mais próximos para saber bem disso. “Ele nunca saiu [do cenário político]. Está agora com mais tempo para dar suas opiniões, sua contribuição à política do Maranhão e nacional. É uma figura de expressão nacional, tem um passado de referência no Maranhão. Tirar nome de muro, nome de prédio, não apaga a história que o homem deixou ao longo dos anos que ajudou o estado”, afirmou o presidente em exercício do PMDB maranhense, Remi Ribeiro.
O próximo passo de Sarney deve ser algo tão previsível como a marca que seu nome deixa na história: voltar para seu distrito eleitoral de origem, o Maranhão.
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