sábado, 20 de agosto de 2016

UM GRANDE EXEMPLO DE HUMILDADE

AS BELEZAS DAS QUAIS O ESPORTE PROPORCIONA









ascido e criado em uma família que respira esporte, sobrinho de Oscar Schmidt, o Mão Santa, e do apresentador Tadeu Schmidt, e filho de um campeão olímpico sênior, Bruno Schmidt não fugiu à tradição. O atleta nasceu em Brasília, mas só ficou lá por 20 dias, e foi com a família para Cabo Frio. O pai, militar, era piloto da Marinha e servia na área de São Pedro da Aldeia. Bruno cresceu no município do litoral fluminense, onde viveu até os 12 anos. Se apaixonou pelo surfe, mas sempre gostou de praticar esportes. Aos 10, já jogava vôlei com o pai na praia com os adultos. Quando mudaram-se para Manaus, sem o mar, passou a se dedicar mais ao esporte o que faria campeão olímpico quase duas décadas depois, ao lado de Alison, em 2016. No Rio de Janeiro, começou a treinar vôlei de praia com mais regularidade na escolinha do ex-jogador Bernard. Participou de torneios mirins e logo despontou. Após diversos rumos da vida, retornou às terras capixabas, onde tornou-se profissional. A conquista na Rio 2016, 12 anos depois do ouro de Ricardo e Emanuel, em Atenas 2004, coroou a trajetória vitoriosa, construída em família. 
- O meu irmão, o talentoso Tadeu, levou a família para o vôlei, eu jogava basquete. Ele jogou em Cabo Frio quando era muito pequeno, mas a primeira escolinha que ele treinou foi ali na Tijuca, do Bernard, e o professor era o Fernando Robocop, que era meu parceiro do vôlei de praia. Ele viu o talento no Bruno e juntou ele com um garoto de muito talento, e ele ganhou tudo quanto era campeonato mirim em 2001. Mas foi o Fernando que teve este primeiro "insight". Depois, em Brasília, eu tive que assumir. Batia bola com ele nos clubes até por egoísmo, pois eu queria estar perto do meu filho. Ter o prazer de jogar com o seu próprio filho, não tem preço. Jogamos o circuito brasiliense e algumas etapas do nacional em categoria amadora. Aí ele foi para o Espírito Santo e conheceu esse monte de feras aí - disse Luiz Felipe Schmidt.
- A grande paixão da vida dele antes era o surfe, ele tinha muito talento. Mas, em 2008, eu fui transferido para Manaus, e ele teve de escolher. Passou a se dedicar mais ao vôlei. Eu tenho até uma foto emblemática em um campeonato em Arraial do Cabo, saiu uma foto dele jogando com o irmão lá - lembrou.
Bruno Schmidt abraça o pai Luiz Felipe Schmidt após título em São Paulo (Foto: Divulgação/FIVB)Campeão olímpico, Bruno Schmidt abraça o pai, o ex-jogador Luiz Felipe Schmidt (Foto: Divulgação/FIVB)
O pai de Bruno sempre foi um dos maiores incentivadores do jogador. O filho sofreu preconceito por ser baixo para os parâmetros do esporte, com 1,85m e até cogitou a possibilidade de desistir da carreira, mas Luis Felipe insistiu para que continuasse. A aposta deu certo. Habilidoso, versátil e grande defensor, Bruno atingiu o ápice. Atual campeão olímpico e mundial, o atleta fez o patriarca passar por um teste para cardíacos na Olimpíada.
O ex-jogador conta que o brasiliense atravessou uma via-crúcis nas últimas semanas. A ansiedade pela importância de uma competição como a Olimpíada e a responsabilidade de representar um país tiraram o sono de Bruno. Sem dormir, ele ligava e mandava mensagens para os pais e a esposa, Laís, pedindo às vezes para que o encontrassem para um colo. Mas superou todas as dificuldades e jogos contra antigos campeões olímpicos e mundiais e um difícil duelo nas quartas de final diante dos americanos Phil Dalhausser, campeão olímpico em Pequim 2008, e Nick Lucena. Na final, Alison e Bruno venceram os italianos Nicolai e Lupo, atuais campeões europeus, por 2 sets a 0 (21/19, 21/17) em Copacabana, berço da modalidade.
- Esses 10 dias foram atípicos para ele. Ele nunca foi como foi nesses 10 dias. Estava extremamente angustiado. Eu recebia as mensagens no meio da noite: "está acordado, está aí". Eu recebia as mensagens com a esposa dele à noite, está eu e ela aqui. Ficava na madrugada falando com ele, tentando consolar. Ele estava com uma pressão tão grande. Esse peso de ser o favorito é insuportável para o atleta. E esse peso de ser a primeira Olimpíada. Alison já é mais meninão, já tem outra Olimpíada, o Bruno não. Estava com uma angústia insuportável por ser a primeira vez - contou o pai.
Alison e Bruno Schmidt, Brasil x Itália, vôlei de praia (Foto: REUTERS/Murad Sezer)Alison e Bruno Schmidt na final que os consagrou com a medalha de ouro (Foto: REUTERS/Murad Sezer)
Luiz Felipe se preocupou com a angústia do filho, mas elogiou a capacidade de Bruno em transformar peso da responsabilidade que carregava nas costas em motivação para se superar.
- Ele comprava um ingresso do Rio Centro, ficava lá uma meia horinha, era mais próximo dele e já era o suficiente. Ele estava muito angustiado. Nunca vi ele tão angustiado. Mas o mais impressionante é estar nessa angústia toda e conseguir se superar. Primeiro sorriso que vejo dele em 15 dias - comemorou.
Ele sempre viu Oscar como um cara dedicado ao treinamento, mas, não tiveram muita aproximação. Oscar sempre estava no exterior para poder ter uma influência direta. Mas sempre foi um exemplo. O Tadeu, esse sim. Sou 12 anos mais velho do que Tadeu e Tadeu é 12 anos mais velho do que Bruno. Ia lá pra casa jogar videogame, era o tio-amigo. É o tio que ele liga para bater papo. Com Oscar sempre foi um ídolo, uma pessoa para se espelhar. Tadeu não. Era o parceiro dele. Morou já na casa dele. É uma pessoa que ele tem liberdade" 
Luiz Felipe Schmidt
O ex-jogador destaca o foco e determinação como fundamentais para as láureas do filho. 
- Nesses três últimos anos, falei para ele: "Bruno, vamos sair para comer um churrasco hoje?". E ele: "Não pai. Eu quero ter certeza que nesses últimos quatro anos fiz tudo que tinha que fazer. Se eu não conseguir a medalha, vou está com a consciência tranquila de que fiz tudo que tinha de fazer. Agora se eu não conseguir a medalha e tiver deixado de fazer alguma coisa, eu não vou me perdoar". A vida de atleta é uma vida muito dura. Pouca gente sabe. Quando vê é isso, os atletas no ápice, no glamour da vitória. Agora até chegar lá é muito duro.
Também acredita que o exemplo dos tios também serviram de inspiração. Tadeu, 12 anos mais velho, era o parceiro, um "tio-amigo", como ele diz, uma presença regular em visitas, com direito a muito videogame. Oscar, viaja bastante, mas era um ídolo servia como modelo de atleta. O pai conta que o filho não abre mão de uma dieta alimentar regrada, de repouso e nem dos treinos. 
- Talvez por serem esportes diferentes, ele sempre viu Oscar como um cara dedicado ao treinamento, mas, normalmente, não tiveram muita aproximação. Oscar sempre estava no exterior para poder ter uma influência direta. Mas sempre foi um exemplo de atleta dedicado. O Tadeu, esse sim. Sou 12 anos mais velho do que Tadeu e Tadeu é 12 anos mais velho do que Bruno. Ia lá pra casa jogar videogame, era o tio-amigo. É o tio que ele liga para bater papo. Com Oscar sempre foi um ídolo, uma pessoa para se espelhar. Tadeu não. Era o parceiro dele. Morou já na casa dele. É uma pessoa que ele tem liberdade.

Nenhum comentário:

Postar um comentário