Festa de Nossa Senhora Aparecida reúne cerca de 50 mil em Manaus
Procissão e missa celebraram 300 anos da aparição da Padroeira do Brasil.
Por Ive Rylo, G1 AM
Nem mesmo quatro anos preso em uma cama, sem conseguir mover as pernas, foram capazes de apagar as quase sete décadas de fé e devoção do mestre de obras Eduardo Procópio da Silva, de 68 anos. Ele é um dos milhares de fieis que tomaram as ruas de Manaus para agradecer a padroeira do Brasil, Nossa Senhora Aparecida. Uma missa e uma procissão reuniram 50 mil pessoas na capital, nesta quinta-feira (12), para celebrar a santa.
Em 2017 faz 300 anos da aparição da santa no Rio Paraíba do Sul, que corta os estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. O jubileu foi comemorado de Norte a Sul do país pelos devotos da santa negra de terras tupiniquins.
A mais de quatro mil quilômetros de distância da basílica da padroeira no estado de São Paulo, aproximadamente 50 mil pessoas formaram uma procissão que percorreu pouco mais de quatro quilômetros, cruzando as principais ruas do Centro da capital manauara.
Com uma imagem nas mãos, Eduardo não falhou no cumprimento da promessa que fez, em meados de 1990. Afinal, promessa feita é promessa cumprida, segundo ele.
No início da década, ele caiu de uma altura de 18 metros no Porto de Trombetas, no Pará. "Eu estava trabalhando quando cai. Passei 8 meses internado. Fiquei quatro anos sem andar em cima de uma cama. Mas nunca desisti, sempre achei que ia voltar a andar e me apeguei a ela com muita fé", disse o devoto.
Após dois anos fazendo fisioterapia e com aquela "forcinha" da santa, Eduardo deu o primeiro passo. "Sempre acreditei. Herdei a devoção dos meus pais. Só saio de casa depois de rezar o meu terço e ver a novena na televisão. Aí o meu dia pode começar", relatou.
Após voltar a andar, contrariando previsões, Eduardo e a santinha ficaram “unha e carne”. “Depois eu tive um infarto e ainda passei por duas cirurgias de catarata e glaucoma e sempre me apeguei e confiei nela. Hoje enxergo melhor que antes”, garantiu.
Peregrinação
Os fiéis percorreram as ruas Alexandre Amorim, 10 julho (próximo a Santa Casa), Ferreira Pena, ocupando a avenida Leonardo Malcher, passando pela rua Luiz Antony e Ramos Ferreira. Foram realizadas várias paradas, uma dela em frente a quadra da escola de samba do bairro, onde foi construída uma imagem de Nossa Senhora Aparecida gigante.
No meio da multidão, "mini-Aparecidas" arrancaram sorrisos dos devotos. Coberta com um manto azul feito o de Nossa Senhora, para pequena Maria Eduarda de Souza, de 3 anos, a tarde foi de festa.
"Prometi que traria ela pra procissão se ela ficasse boa e graças a Nossa Senhora minha filha está bem e com saúde", disse a mãe, a vendedora Rita de Cassia de Souza, de 27 anos.
Há um ano, a pequena que hoje distribuía sorrisos na multidão de devotos, adoeceu feio. A mãe passou quatro meses em busca de um diagnóstico. "Perdi a conta de quantos pediatras eu fui. Ela estava muito ruim, tossia muito, tinha muita falta de ar. Ela fez muitos exames, mas ninguém entendia o que ela tinha", lembrou a mãe.
Após se apegar com a Santa, o diagnóstico foi certeiro: início sorrateiro de pneumonia. "Ela passou por três meses de tratamento e ficou boa. Somos muito gratos", reconheceu Rita.
Sonho de menina
Se uns fizeram a peregrinação em agradecimento pela saúde devolvida, outros agradeciam pelos sonhos realizados. Ao lado mãe, a estudante Alexsandra Dos Santos, de 15 anos, percorreu todos os 4 km com os pés descalços e vestida com o manto e a coroa semelhantes ao da padroeira. A produção impecável foi feita para agradecer a realização da festa de 15 anos da moça.
"Nós não tínhamos condições de fazer uma festa de aniversário para comemorar os meus 15 anos. Mas a minha mãe fez promessa e deu tudo certo. Era para ser uma coisa simples. Eu não esperava, foi melhor que eu pude imaginar, teve até cerimonialista”, orgulhou-se a jovem.
A mãe dela, a agente de serviços gerais Alessandra Verônica Viana, de 39 anos, conta que sempre foi devota da santa e sonhava em dar para filha uma festa como jamais teve.
“Eu não tive festa de 15 anos e queria que a minha filha tivesse. Os pais sempre querem o melhor para os filhos. Ela é minha única filha mulher”, revelou a mãe.
Seja com os pés descalços, carregando garrafas de água na cabeça, cobertas com um manto azul ou com as mãos queimadas com a cera derretida das velas, o número de devotos nas ruas não diminui, segundo o padre Palotino Montavani.
“O que atrai é a simplicidade da mãe. Isso faz com que o povo se sinta a vontade diante dela. Maria sempre conduz os seus filhos a Cristo Jesus e todos aqueles que tem fé nela alcançam a graça. Foi assim com o pescador e é assim conosco. Esta fé, esta certeza DE que a mãe intercede por nós, que faz com que, cada vez mais, a busquemos para que assim possamos estar mais perto de Jesus”, disse.
Após a peregrinação, os devotos se reuniram em uma missa campal no bairro que leva o nome da Santa.
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