quinta-feira, 26 de junho de 2014

O BRASIL, ESTÁ LIVRE DESTE CARRASCO TIRANO JOSÉ SARNEY

O que levou Sarney a desistir da reeleição no Senado

Senador dá prioridade ao tratamento de saúde da mulher, mas também pesou na decisão, que não reduz influência nem o afasta da política, a falta de apoio e o risco de um vexame nas urnas

24/06/2014 | 22h42
O que levou Sarney a desistir da reeleição no Senado Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
Há 24 anos no Senado, Sarney deu a entender nesta terça que, mesmo sem cargo eleito, não deixará de atuar nos bastidores Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom / Agência Brasil
José Sarney personifica realidades antagônicas no Senado e no Amapá. No Congresso, é uma esfinge com um currículo de seis décadas de vida pública, cuja influência e poder se estendeu ao Palácio do Planalto, tanto nos governos do PSDB quanto do PT. No Amapá, a realidade é outra. Há anos enfrenta um desgaste político, amplificado com as vaias recebidas na cerimônia do programa Minha Casa Minha Vida, na segunda-feira.
Aos 84 anos, o ex-presidente da República já manifestara o desejo de não tentar o quarto mandato como senador, mas resistia ao ocaso, lembrando a última vitória nas urnas, em 2006, quando superou as dificuldades com apoio quase unânime de partidos e prefeitos do Amapá. A vitória deu fôlego, só que hoje a família Sarney já perde prestígio até no Maranhão, origem política do clã. A decisão do senador surpreendeu, inclusive os funcionários no gabinete em Brasília. A viagem com a presidente Dilma Rousseff a Macapá foi um último teste para ver se a candidatura se sustentava.
– A sua base se esfacelou, e ele foi abandonado. Se concorresse sozinho, corria o risco de perder para brancos e nulos – diz o senador João Capiberibe (PSB-AP), adversário político de Sarney no Amapá.
Se Sarney fosse candidato, o PT teria de apoiar para o governo a chapa de Waldez Góes (PDT), que governou o Amapá de 2003 a 2010 – quando foi preso na Operação Mãos Limpas, da Polícia Federal. Sarney consultou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que prometeu se empenhar na reeleição. As vaias de populares foram a gota d'água. Nem mesmo o PT local havia engolido o apoio, já que desejava eleger a atual vice-governadora, Dora Nascimento (PT) para o Senado.
No evento em Macapá, Sarney dividiu o palanque com o governador Camilo Capiberibe (PSB), também aliado do governo, que provocou seu passado e as relações com a ditadura. Pelos adversários, o ex-presidente era considerado um intruso desde que transferiu seu domicílio eleitoral do Maranhão ao Amapá.
– O Amapá vai passar a ter três senadores, já que antes tinha dois, e o Maranhão quatro – ironizou nesta terça-feira um dos adversários políticos de Sarney.
O declínio começou em 2009, logo após Sarney sentar pela terceira vez na cadeira da presidência do Senado. À época, estourou o escândalo das nomeações por meio de atos secretos da Casa. Sarney foi blindado por Lula, mas viu aumentar sua rejeição popular. O "fora Sarney" se multiplicou nas redes sociais.
Com uma capacidade incomparável de se manter no poder, elegeu-se novamente para a presidência do Senado. Sua longevidade passou a ser alvo de xingamentos até em shows de rock. Sarney, contudo, jamais perdeu a pose. No governo Dilma, manteve cargos, mas viu sua relevância diminuir diante da tríade liderada pelo vice Michel Temer e os presidentes do Senado, Renan Calheiros (AL), e da Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN).
Sarney se afastou do dia a dia da aliança entre PT e PMDB. Nem mesmo participava das reuniões e jantares promovidos por Temer, mas ainda era a última voz a ser ouvida pelo partido, principalmente quando as relações com os petistas estavam estremecidas.
Dilma foi a primeira a saber da aposentadoria. Oficialmente, os problemas de saúde da mulher, Marly, são o motivo. No fundo, pesou o receio de um vexame eleitoral nas urnas.
Na linha do tempo, relembre os principais momentos de Sarney:



Sem mandato, mas com poder
José Sarney sai de cena na política nacional, mas isso não significa que sua influência tenha chegado ao fim. O que muda é o cenário. Adversários do clã do senador no Maranhão preparam-se para o retorno do velho líder ao Estado, onde ele deve tomar a frente na campanha de seu candidato ao Palácio dos Leões.
Foi lá, em 1966, que ascendeu na vida pública, eleito governador com 60% dos votos válidos. Desde então, sua família se perpetuou no poder. A hegemonia, no entanto, corre risco.
A atual governadora, Roseana Sarney (PMDB), herdeira do ex-presidente, voltou a ter a imagem corroída desde o fim do ano passado, quando uma crise atingiu o sistema prisional e chegou às ruas. Roseana ensaiou a saída do governo para concorrer a senadora, mas voltou atrás em abril.
Em paralelo, o principal candidato de oposição, Flávio Dino (PC do B), conseguiu reunir em torno de si uma espécie de frente anti-Sarney. A coligação tem nove siglas, inclusive o PSB de Eduardo Campos e o PSDB de Aécio Neves, rivais no âmbito federal.
– Sarney decidiu deixar o Senado em razão do enorme desgaste que enfrenta no Amapá e do risco que corre no Maranhão. Não temos dúvidas de que vai concentrar todas as energias aqui. Vai se jogar com tudo – avalia Dino.
Coincidência ou não, Sarney foi vaiado várias vezes em Macapá (AP) em evento ao lado da presidente Dilma Rousseff. Ao mesmo tempo, no Maranhão, cresce a insatisfação de parte da população.
– Os maranhenses estão se dando conta de que não ganharam nada com todos esses anos de Sarney no Senado – diz a deputada estadual Eliziane Gama (PPS).
A parlamentar, que engrossa o coro dos críticos do sarneysmo, afirma que ainda é cedo para avaliar o real impacto da reviravolta. Dino tem certeza de que Sarney, na prática, acabará coordenando a campanha de Edinho Lobão (PMDB), filho do ministro da Minas e Energia, Edison Lobão (PMDB), ao Executivo estadual.
E não parece nada satisfeito:
– Sarney continua sendo Sarney. Não podemos subestimá-lo – pondera Dino.
Cinco momentos marcantes na carreira
Seis partidos e sempre ao lado do governoComo deputado federal, governador, senador e presidente, Sarney esteve filiado a seis partidos: PSD, UDN, Arena (partido de sustentação da ditadura militar), PDS, Frente Liberal (depois PFL, atual DEM) e PMDB. Em toda sua carreira, sempre esteve alinhado com o governo.
O mais velho imortal da academiaFormado em Direito e escritor, Sarney foi eleito para a cadeira 38 da Academia Brasileira de Letras, em 1980. Hoje, é o mais antigo imortal. O político escreveu poemas, contos, crônicas, ensaios e três romances: O Dono do Mar, Saraminda e A Duquesa Vale uma Missa.
Ascensão à Presidência e constituinteCandidato a vice em 1985, Sarney herdou a Presidência após a morte de Tancredo Neves. Ao assumir, enviou ao Congresso a proposta que criou a assembleia para elaborar a nova Constituição, promulgada em 1988 e que, marcou, por exemplo, a volta das eleições diretas.
Hiperinflação e planos fracassadosPara combater a hiperinflação, Sarney congelou preços e salários e lançou o Cruzado, em 1986. Mas o plano não vingou e houve falta de produtos. Lançou, ainda, os planos Cruzado II, Bresser e Verão. Deixou o Palácio do Planalto em 1990, com inflação anual de 2.751%.
No Senado, presidência e escândalosMaranhense, Sarney elegeu-se três vezes senador pelo Amapá, criado quando ele foi presidente. Presidiu quatro vezes o Senado e foi personagem de vários escândalos como o dos "atos secretos", com nomeações de parentes. No fim, não renunciou nem foi afastado.

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