Em discurso histórico, Papa Francisco pede perdão pelos crimes da Igreja durante a colonização da América, condena a "lógica do lucro a todo o custo, sem pensar na exclusão social", chama o capitalismo de 'ditadura sutil' e tece duras críticas ao monopólio dos meios de comunicação
Papa Francisco recebe chapéu de Evo Morales na Bolívia (Reuters)
O papa Francisco esteve na Bolívia reunido com cerca de 1.500 representantes de movimentos sociais de mais de 40 países nesta quinta-feira. O pontífice fez um discurso contra o sistema capitalista, o qual chamou de “ditadura sutil”, e pediu desculpas pelos crimes da Igreja contra indígenas na região. Ainda em Santa Cruz, visitou a prisão de Palmasola, a mais perigosa do país andino.
Capitalismo
Para o líder da Igreja Católica, o atual sistema global “que impôs a lógica do lucro a todo o custo, sem pensar na exclusão social nem na destruição da natureza (…) é insuportável: não o suportam os camponeses, não o suportam os trabalhadores, não o suportam as comunidades, não o suportam os povos…. E nem sequer o suporta a Terra, a irmã Mãe Terra, como dizia São Francisco”.
“Quando o capital se converte em ídolo e dirige as opções dos seres humanos, quando a avidez pelo dinheiro tutela todo o sistema socioeconômico, arruína a sociedade, condena o homem, transforma-o em escravo, destrói a fraternidade inter-humana, coloca povo contra povo e, como vemos, até põe em risco esta nossa casa comum”, disse o sacerdote.
Francisco considerou ainda que atual sistema é uma “ditadura sutil” e chamou os mais pobres e excluídos à ação: “vós, os mais humildes, os explorados, os pobres e excluídos, podeis e fazeis muito. Atrevo-me a dizer que o futuro da humanidade está, em grande medida, nas vossas mãos, na vossa capacidade de vos organizar e promover alternativas criativas na busca diária dos ‘3 T’ (trabalho, teto, terra), e também na vossa participação como protagonistas nos grandes processos de mudança nacionais, regionais e mundiais. Não se acanhem!”.
As três tarefas
O papa propôs aos movimentos sociais três tarefas:
1. Colocar a economia a serviço dos povos: “Esta economia é não apenas desejável e necessária, mas também possível. Não é uma utopia, nem uma fantasia. É uma perspectiva extremamente realista. Podemos consegui-la”;
2. Unir os nossos povos no caminho da paz e da justiça: nenhum poder efetivamente constituído tem direito de privar os países pobres do pleno exercício da sua soberania e, quando o fazem, vemos novas formas de colonialismo que afetam seriamente as possibilidades de paz e justiça;
3. Defender a Mãe Terra: “a casa comum de todos nós está sendo saqueada, devastada, vexada impunemente. A covardia em defendê-la é um pecado grave. Vemos, com crescente decepção, sucederem-se uma após outra cúpulas internacionais sem qualquer resultado importante.
Monopólio
O Papa Francisco também teceu duras críticas na concentração monopolista da mídia. “A concentração monopolista dos meios de comunicação social que pretende impor padrões alienantes de consumo e certa uniformidade cultural é outra das formas que adota o novo colonialismo. É o colonialismo ideológico. Como dizem os bispos da África, muitas vezes pretende-se converter os países pobres em ‘peças de um mecanismo, partes de uma engrenagem gigante”, afirmou.
Perdão
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