quarta-feira, 23 de abril de 2014

A FAB na visão do estrangeiro

1 1yEJveXksNbZG7f0A9tBcwEm 10 de agosto de 2011, quatro aviões de ataque A-29 Super Tucano da Força Aérea Brasileira decolaram de Campo Grande, no sul do Brasil para um lugar 45 milhas a nordeste de São Gabriel da Cachoeira, para juntos despejarem oito bombas de 500 libras.
Seu alvo: a pista de terra, cortada dentro da floresta, suspeita de servir ao cartel de drogas ou ao contrabando que constantemente usam a floresta amazônica para subtrair seus minerais e animais selvagens.
As bombas explodiram com o ruído de trovões, gerando fumaça e muita terra no ar. Circundando a pista de pouso, os tripulantes de um dos A-29 confirmaram que as bombas fizeram crateras e inutilizaram a pista… por enquanto.
Os traficantes possuem outros aeródromos e podem até mesmo reparar a pista atacada. Lutando contra os criminosos na Amazônia é uma “guerra sem fim”, mas é uma guerra sem fim que a força aérea brasileira é capaz de travar.
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Negligenciado pela maioria dos observadores estrangeiros focados em conflitos na África, no Médio Oriente, Ásia Central e na corrida armamentista de alta tecnologia entre os EUA e a China no Pacífico Ocidental, o Brasil vem calmamente cuidando uma das aéreas mais impressionantes e importantes do mundo, lutando contra grupos criminosos que ameaçam o mais importante bioma do planeta.
A Força Aérea Brasileira – FAB – terá em muito breve, o mais impressionante sistema de comunicações de vigilância ultra-sofisticado, misturando caças a jato “vintage” da década de 1970 com turboélices, como o A-29 que combinando uma estrutura única, apesar de ser parecer com algo que acabou de sair da Segunda Guerra Mundial.
E a FAB também é notável por ser barata. Numa época em que muitas forças aéreas insistem em comprar aviões de guerra cada vez mais caros e, portanto, comprar menos, o Brasil, com seu braço aéreo e com um orçamento muito pequeno, de apenas alguns bilhões de dólares por ano, faz o possível, porque os seus líderes evitam aeronaves de categorias de tecnologia de ponta, que, embora atraente, não são realmente úteis na América do Sul.
Mas o que é mais inspirador é como o Brasil organiza sua força aérea e a forma como ele faz para a compra.
Em uma palavra: estratégia. Quando se trata de poder aéreo, o Brasil parece ter uma. E, na prática, essa estratégia se traduz diretamente em bombas, lançadas por aviões turboélice de ataque, explodindo em pista de contrabandistas em meio ao ecossistema da floresta mais rica do planeta.
A FAB foi formada em 1941 e lutou com os Aliados na Europa na Segunda Guerra Mundial. A moderna força aérea brasileira, indiscutivelmente, nasceu em 1975, ano dos primeiros caças supersônicos F-5E. Trinta e nove anos depois, o F-5 ainda é avião de guerra top de linha e foi recentemente reformado com sensores de ponta, comunicadores e armas.
Hoje, a FAB possui 77 mil funcionários e mais de 700 aeronaves, incluindo 57 caças F-5, 53 caças-bombardeiros A-1, jatos subsonicos construídos localmente e 99 Super Tucanos, também de fabricação local, além de aviões de espionagem, aeronaves de apoio, transportes, formadores e helicópteros. A FAB é a maior força aérea da América do Sul, mas mão de obra e equipamentos não conta toda a história. A estratégia do Brasil é fortemente evidente no que aviões da FAB opera e como opera.
Santiago Rivas e Carlos Filipe Operti, escrevendo na revista Combat Aircraft em 2012, disse qual é a melhor estratégia para o país: “O Brasil primeiro tem de demonstrar totais controles sobre seu próprio território, e especialmente sobre seus ricos recursos naturais”.
Mas a Amazônia tem sido mal governada. Vasta e valiosa, mas com pouca infra-estrutura oficial, a floresta está sendo saqueada por incontáveis milhares de garimpeiros ilegais, madeireiros, traficantes de animais e produtores de drogas, cujas atividades ilícitas minam o Estado brasileiro e ameaçam a saúde ecológica do mundo. Em 1990, o governo federal em Brasília lançou um programa ambicioso para abranger uma ênfase renovada na legislação interna e da ordem.
Chamado Sistema de Vigilância da Amazônia, ou SIVAM, o programa de US$ 1,5 bilhão foi destinado, em primeiro lugar, para gerar informações sobre cerca de 2.000.000 km² de densas florestas. Haveria satélites de vigilância, estações de dados e, mais impressionante, uma frota de alta tecnologia de reconhecimento e planos de comunicação especialmente equipados para processar os fluxos de dados em conjunto.
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O sistema iria ajudar as autoridades a monitorar a temperatura, a precipitação, a cobertura florestal e os incêndios, e por consequência manter o controle sobre e ao tráfico de destino e de mineração e exploração madeireira ilegal.
Em suma, o SIVAM foi concebido como uma rede de dados voltados para a proteção ambiental, aplicação da lei e segurança interna. Mas ele evoluiu para se tornar também uma das primeiras redes de batalha abrangentes do mundo, perfeitamente conectando todas os principais caças da FAB.
Quando os Super Tucanos que bombardearam aeródromo ilegal, há três anos, fizeram-no com base em informações recolhidas por um drone Hermes 450 e repassada para os pilotos de ataque via datalinks SIVAM. Esse é exatamente o tipo de coisa que os militares dos EUA passaram décadas e centenas de bilhões de dólares tentando aperfeiçoar, com sucesso apenas modesto.
Enquanto isso, os cientistas protestaram que a rede foi excessivamente otimizada para uso militar. “O SIVAM não é uma ferramenta para a pesquisa científica”, disse Luiz Gylvan Meira Filho, do Ministério da Ciência e Tecnologia.
O orçamento foi reduzido ano após ano por volúveis políticos brasileiros, constantemente atrasando o desenvolvimento. Os primeiros terminais de satélite estavam no local em 1999, depois de quase uma década de trabalho. A Embraer produziu os primeiros aviões de apoio específico ao SIVAM, em 2000.
No total, o SIVAM adicionou 12 aviões, jatos executivos construídos pela Embraer especialmente modificados para a FAB: cinco R-99A com poderosos radares de varredura aérea, construído pela sueca Saab, e mais três R-99B com radares de abertura sintética para o mapeamento da solo e também quatro aeronaves laboratório que testam o sistema para mantê-lo em forma.
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O R-99A são aviões de alerta antecipado, como o E-3 AWACS. O R- 99B são equivalentes ao E-8C J-STARS dos norte-americanos, que rastreou as forças terrestres iraquianas durante a Guerra do Golfo, em 1991 , guiando os jatos de ataque que destruíram centenas de veículos iraquianos e mataram milhares de soldados.
A Raytheon adicionou datalinks de rádio para o R-99. Segundo a Raytheon, tudo que o R-99 vê no ar ou no chão, os funcionários do governo podem ver também.
Com arquitetura SIVAM no lugar, a FAB começou a adicionar poder de fogo. Em 2006, a Embraer marcou um contrato para desenvolver um novo datalink chamado datalink BR2.
A FAB otimizou o novo datalink com atualizações para o seus principais aviões, num plano de melhoria ganhando um “M” na sua designação. “No devido tempo, todos os F- 5M, A-29M e A-1M, devem compartilhar o mesmo conjunto de aviônicos, permitindo que essas aeronaves possam trocar grandes quantidades de dados e até mesmo imagens de forma segura
Os F-5 são a espinha dorsal da FAB e também o seu equipamento mais interessante. Velho por qualquer padrão, os bimotores F-5 são pequenos, ágeis e baratos, mas não têm o poder absoluto, velocidade e discrição ao radar como o F-22 ou outros caças modernos.
Ao invés de gastar bilhões de dólares na aquisição de um pequeno número de jatos furtivos o Brasil está focando em um projeto de um caça menos caro, apoiados por aviões de ataque básicos, como o Super Tucano e o A-1.
A FAB operou recentemente 12 caças Mirage 2000, ‘vintage’, da década de 1980, de fabricação francesa, caças esses que eram tão velhos quanto os F-5, mas ao invés de atualizar os Mirages, o Brasil substituiu-os com caças de segunda mão F-5 da Jordânia e elevou esses F-5 adicionais até o padrão “M”.
Poucas forças aéreas optaram por este movimento, de mover-se para trás no tempo, mas a FAB parece raciocinar que uma pequena frota de poucos jatos modernos é realmente inferior a uma força de jatos de maior de idade, ligados a uma rede de informação de ponta.
Gripen BR
Em poucos anos, a FAB pretende começar a substituir todos os seus caças e aviões de ataque com um único tipo: o caça leve Gripen da Saab. A empresa sueca que também faz os radares do E-99 e é adepta da adição de datalinks em aviões de guerra. É uma aposta nos Gripens com o link BR2.
E na medida em que um Brasil mais forte significa proteger a Amazônia vital, todo o planeta terá benefícios.
FONTE: David Axe/medium.com/war-is-boring – Tradução e edição: CAVOK
IMAGENS: Arquivo CAVOK

Dica do Amigo Fred 90 – Obrigado! ;-)

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