domingo, 7 de outubro de 2012

José Sarney comenta o desenrolar das eleições deste domingo

Publicação: 07/10/2012 09:42

Em 1985, depois de vinte anos impedidos de escolher seus mandatários, os eleitores das capitais voltam às urnas, graças a uma das primeiras medidas tomadas pelo então pre¬sidente da República, José Sarney, que com este gesto ajudou a sepultar o que ainda restava de entulho autoritário do regime militar implanta¬do em 1964. Vale ressaltar que foi por obra de José Sarney também que os partidos comunistas saí¬ram da clandestinidade, ou seja, o país voltou a respirar democracia.

Hoje, passados 27 anos da volta da democracia, a população de São Luís tem mais uma oportunidade de escolher livremente o próximo prefeito. Ouvido com exclusividade por O Imparcial, o senador José Sarney, que hoje preside o Congresso Nacional, diz que vê com normalidade os debates que estão sendo travados na campanha deste ano, pois se trata de algo típico da democra¬cia, que “é um regime de conflitos”.

Na entrevista, Sarney diz que tomou a decisão de devolver o di¬reito de voto aos moradores das capitais e de ou¬tras cidades consideradas de segurança nacional, como São João dos Patos, no sertão maranhense, porque não via com normalidade esta privação. “Tal providência estava inserida na transição de¬mocrática que conduzi e também na Constituinte, pois legalizei também os partidos que estavam na clandestinidade, assim como os egressos dos mo¬vimentos clandestinos que não tinham oportuni-dade de participar do processo político”, disse ele.

O Imparcial: Presidente, a volta das eleições nas capitais deu-se em seu governo. Como o senhor avalia essa conquista do povo brasilei¬ro, 27 anos depois?
José Sarney: Realmente uma das primeiras providências quando assumi a Presidência foi restaurar as eleições diretas para as capitais. Até então, os prefeitos eram nomeados pelos gover¬nadores. Fazia parte do meu projeto de abertura política abrir todos os espaços para que as for¬ças que emergiam do regime autoritário para a democracia pudessem ocupar uma posição de destaque no processo de decisões nacionais. As¬sim, com grande determinação, fizemos voltar as eleições diretas para as capitais e para as cidades que até então eram consideradas de segurança nacional e cujos prefeitos eram nomeados pelo presidente da República. Tal providência estava inserida na transição democrática que conduzi e também na Constituinte, pois legalizei tam¬bém os partidos que estavam na clandestini¬dade, assim como os egressos dos movimentos clandestinos que não tinham oportunidade de participar do processo político. Hoje, vemos no Brasil inteiro as capitais tornarem-se pilares da consolidação democrática e suas administrações serem entregues a pessoas escolhidas pelo povo.

Na sua opinião, a escolha direta pelo povo favo¬receu as administrações das capitais em com-paração ao período em que os prefeitos eram nomeados pelo governador?
Sim, seria impossível numa democracia as capitais e a maiores cidades dos estados serem privadas de escolher os seus mandatários.

Por que o senhor elegeu esta como uma das primeiras medidas do seu governo?
Escolhi restaurar as eleições nas capitais por¬que isso mostrava a minha determinação de fa¬zer o país voltar rapidamente à democracia; foi uma decisão corajosa e que importava, naqueles tempos, riscos, pois, com todos os problemas que vivíamos de ordem política, econômica e administrativa, nós acrescentávamos também um processo eleitoral. Mas, por outro lado, a mi¬nha crença é que nós abríamos os espaços para essas forças que emergiam para a democracia, da qual estavam privadas há mais de vinte anos.

Como o senhor vem assistindo ao debate nas capitais?
Com absoluta normalidade. Como ocorre na democracia, que é um regime de conflitos que são harmonizados pela vontade do povo, nas escolhas majoritária os eleitos neste domingo terão, sem dúvida, uma visão muito mais clara dos problemas que afligem os grandes aglomerados urbanos e se tornaram cidades com problemas novos, como o trânsito, infraestrutura de vias de transporte, transporte urbano e em¬prego, uma vez que a demanda pelo mercado de trabalho cresce a cada dia.

Qual sua expectativa quanto aos governos municipais que serão eleitos neste domingo?
A primeira coisa que tem que se fazer é restaurar a responsabilidade administrativa, através da criação de um Plano Diretor da Cidade, elaborado tecnicamente e que possa equacionar a cidade em termos da melhoria da qualidade de vida no futuro. Sem esse plano e sem seguir um planejamento, a administração passa a ser somente a gerência de um clientelismo, cujo principal objetivo é a próxima eleição. São Luís, pela ausência de um Plano Diretor, vive a desarticulação urbana, com a construção cada vez maior de conjuntos habitacionais sem visão do que eles representarão na demanda de infraestrutura, acesso e qualidade de vida. Assim, em breve, eles agravarão os problemas de mobilidade urbana. Nesse Plano Diretor, será escolhido o tipo de transporte de massa. Hoje, com as técnicas e o desenvolvimento desses transportes, se está marchando para os mo¬norail e não só o VLT. O VLT custa um terço do metrô e o monorail custa um terço do VLT, é mais rápido de implantar, com menos perturbação urbana e também pode transportar razoável volume de pessoas. Esta experiência já está sendo feita em São Bernardo e em muitas cidades do mundo inteiro. O que gostaria de ver em São Luís é uma equipe governamental que pense na cidade com grandeza, elevação, com soluções modernas dos seus problemas e com seriedade e visão sobre uma cidade que tem história, tem grandes valores de cultura popular, potencialidade turística e que vai viver e precisa de uma antecipação de planejamento de um grande surto industrial com o porto que caminha para ser um dos maiores do mundo, a descoberta do gás, a ferrovia Norte-Sul e a qualidade de ensino para a formação de recursos humanos que demandarão essas novas perspectivas. Lembro também que, com todos os retardamentos que tem tido, é possível que já a partir do próximo ano a Base de Alcântara possa lançar o primeiro grande satélite de grande porte, projetando o Maranhão, pois o que acontece em Alcântara vai repercutir em são Luís e demandar formação de técnicos capazes de operar essa tecnologia. Assim, meu olhar sobre São Luís tem dois ângulos: um de otimismo sobre as possibilidades da cidade e outro de pessimismo sobre a falta dessa visão moderna de alguns políticos. Mas, com o amor que eu tenho ao Maranhão, a minha dose de confiança é muito maior e posso repetir o que dizia o padre Vieira: 'Eu tenho saudade do futuro'.

 

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