Zilú Camargo: “Consegui virar a página”
Nos tempos de penúria ela vendeu a própria aliança de casamento, mas no auge do sucesso foi traída e se separou de Zezé Di Camargo. Agora, pela primeira vez, conta sua história
Alvaro Leme
"Quando soube que ele estava em um relacionamento mais sério, a casa caiu. Só aí eu me senti traída de verdade”
(Lailson Santos)
A senhora continuou casada no papel até duas semanas atrás. Depois de todos esses anos, ainda tinha esperança de reatar com Zezé?
Quando empacotei minhas coisas e despenquei para Miami, estava destruída, completamente sem chão, mas ainda acreditava que a distância poderia fazer com que os sentimentos mudassem. Só pensava em resgatar meu casamento. Foram anos até entender que aquele era o ponto final mesmo e que precisava seguir em frente. Quando sequei as esperanças, decidi voltar ao Brasil e formalizar a separação. Posso dizer que fui até o meu limite. Suportei muita coisa em nome dessa união.
Está se referindo à traição que acabou se tornando pública?
Imagine o que é ser casada com um artista conhecido em todo o país. Não sei dizer quantas vezes vieram me falar de infidelidades do Zezé. Já na época de É o Amor, o primeiro sucesso dele, essas histórias chegavam ao meu ouvido, mas eu preferia não saber o que acontecia na rua. Ficava triste, balançada, mas tinha a segurança de que nosso elo era mais forte. Ele sempre voltava para casa, para a família. Era o que importava. Até que, um dia, um amigo empresário me levou para um restaurante e falou de um relacionamento do Zezé com uma moça que parecia ser mais sério. Foi a primeira vez que tive a certeza de ter sido traída de verdade. Aí a casa caiu.
Qual foi a sua reação?
Só pensava: “Estão arrancando de mim meu grande amor”. Num momento desses, a sensação é de a vida estar suspensa no ar. Desmoronei. Naquele dia de fevereiro de 2007 eu tinha organizado um jantar para uma turma. Voltei para casa dirigindo, aos prantos, e lá encontrei Fausto Silva, Tom Cavalcante, João Paulo Diniz, todos amigos chegados. Tentei agir com naturalidade, para que ninguém notasse o meu estado. Quando finalmente os convidados se foram, chamei o Zezé num canto e disparei a pergunta que me matava por dentro, sem nenhum floreio: “É verdade?”. E ele confirmou. Confirmou, mas garantiu que terminaria o romance, que queria manter o casamento. Eu acreditei e aceitei.
E o que aconteceu nesses três anos até sua ida a Miami?
Vivemos bons e maus momentos. Era como uma gangorra. Às vezes, ele ficava na dúvida e me pedia um tempo para pensar; noutras, a coisa se estabilizava e era como se aquele fantasma tivesse desaparecido para sempre. Até que soube que ele tinha voltado com a tal mulher. Decidi então fazer as malas.
A senhora a conheceu?
Nunca cruzei com essa moça, nem mesmo depois que voltei de Miami, em dezembro. Fiquei morando uns tempos na casa que era minha e de Zezé, em Alphaville. Sim, estávamos sob o mesmo teto, eu e ele, mas cada qual no seu quarto, apenas como amigos. Quando a reforma do meu apartamento novo ficou pronta, saí. Mas sei que os dois estão juntos até hoje.
A senhora não teve nenhum acesso de fúria?
Quem me conhece sabe que sou esquentada, brava, mulher de gênio forte. O próprio Zezé tem gravado no celular dele meu número com o apelido “Minha Onça”. Mas sou, acima de tudo, uma pragmática. E sabia que não seria com xingamento nem quebrando a casa toda que teria o meu casamento de volta. Também nunca dei o troco torrando o dinheiro do Zezé. Sabe por quê? Porque quem sempre cuidou do lado financeiro fui eu. Se estourasse o limite do cartão de crédito, adivinhe quem cuidaria da fatura.
A senhora guarda raiva?
Sinceramente, não. Aquilo que tínhamos de tão especial, o amor da adolescência e de boa parte de nossa vida, virou outra coisa. Fiz tudo, tudo mesmo para salvar o meu casamento, sem vergonha de me expor e de correr atrás. Mas nunca me coloquei no lugar da coitadinha, da mulher traída e humilhada, porque esse papel nunca me coube bem. Perdi, sim, a batalha e chorei até secar, mas consegui me refazer.
Durante sua estada em Miami, a senhora foi fotografada inúmeras vezes em companhias masculinas. Alguma era para valer?
Quase todos esses que apareciam ao meu lado eram homossexuais, outros eram só amigos mesmo. Até teria sido bom, mas, honestamente, não havia espaço para mais ninguém naquela fase. Era só o Zezé, com quem fiquei pela última vez há dois anos, numa dessas idas e vindas de Miami.
E agora, está namorando?
Até este momento só tinha aberto essa história para a família e gente do meu círculo mais próximo, mas, sim, apareceu um homem por quem me interessei de verdade. É ainda muito recente. Prefiro revelar o nome só quando tiver certeza de que é namoro para valer. Posso adiantar que ele é do meio sertanejo e um pouco mais jovem do que eu.
O que a temporada fora do Brasil lhe ensinou?
Meu inglês continua tão péssimo como antes. O que aprendi mesmo nos Estados Unidos foi malhar todos os dias com disciplina. Voltei para o Brasil com as mesmíssimas medidas de vinte anos atrás.
Na separação, como ficou acertada a divisão dos bens?
A vida toda fui sócia do Zezé. A divisão, então, já estava estabelecida. Temos negócios variados: entretenimento, gado, construção. Nas empresas que são só dele, minha parcela é de 50%; das que mantém com o irmão, o Luciano, possuo cotas. Zezé sempre viajou muito e eu, que fiz dois anos de faculdade de administração e tenho pulso firme, tocava o business.
Qual é o tamanho de seu patrimônio?
Posso dizer que Zezé e eu temos o suficiente para que os netos dos meus netos vivam muito bem. Para quem veio da roça como eu, esse dinheiro todo já encheu muito os olhos. Comprava dez bolsas Chanel numa tacada só, se me desse na telha. Tenho tudo que é grife no meu armário: Louis Vuitton, Hermès, Versace. Mas fui aprendendo a fazer um gasto mais qualificado. Também agora já tenho de tudo em grandes quantidades. Não preciso mais daquela gastança toda. O último item que comprei e me fez perder a linha foi um Porsche Cayenne. Paguei 155 000 dólares por ele em Miami. Entrei na loja, fechei o negócio e liguei na mesma hora para o Zezé. Queria contar a novidade. Antes, carro eu só comprava com o aval dele. Foi meu grito de liberdade.
A senhora ainda sai do sério quando a chamam de brega?
Nunca mais aconteceu. Breguice vem da falta de conhecimento e de oportunidade. E eu agarrei a minha. Comecei a pesquisar, a reparar no modo como as pessoas se vestiam e a aprender a combinar as coisas. Soube fazer meu próprio estilo. Também mudei a forma de me alimentar. Antes comia o que queria a qualquer hora. Hoje, evito glúten e lactose e adoro uma boa comida orgânica. A gente vai se sofisticando. E eu suei muito para isso: fiz curso de culinária, de moda, de etiqueta, de tudo o que aparecia. Organizo um jantar à francesa como ninguém.
É verdade que a senhora é recordista em cirurgias plásticas?
Minha lista é bem grandinha, sim, mas não entrego o número. Posso dizer que dez delas foram só para trocar as próteses dos seios, por causa da rejeição. Virei até objeto de estudo. Meu caso correu vários centros de pesquisa americanos. Os médicos queriam entender como alguém como eu, sem problemas de saúde nem alergias, se dava tão mal com o implante. Meus seios ficavam duros como pedra, e lá ia eu enfrentar a faca de novo. Uma vez, precisei trocar o silicone porque furou depois que umas amigas me jogaram na piscina. Saí dessa ainda com duas costelas quebradas. Fiz também algumas lipoaspirações, por pura preguiça de me matricular na academia. Queria porque queria ter as pernas mais finas. Já Botox, não tenho nadinha no rosto. Não tenho problema em assumir o que faço, mas nem todo mundo é assim. Cansei de cruzar com gente famosa nas clínicas — gente que sai dando entrevista por aí dizendo que emagreceu para essa ou aquela novela à base de salada e grelhado.
Apesar das cifras milionárias, a senhora acha que os sertanejos ainda são alvo de certo preconceito no showbiz?
Ainda existe o preconceito, mas diminuiu e muitas vezes é da boca para fora. Hoje, você vai a um show e vê gente da alta sociedade sentadinha lá, bem na primeira fila, vibrando. Com a minha família, há uma grande diferença entre antes e depois de 2 Filhos de Francisco. O filme humanizou a gente, mostrando que não somos um bando de deslumbrados em busca da fama. Chegamos aonde chegamos à custa de trabalho duro. Muitas pessoas que me criticavam e julgavam vieram me pedir desculpas.
O filme foi fiel à história real?
No geral foi, mas tem um quê de romantização no enredo. A vida real era ainda mais dura e mais miserável do que a mostrada na tela — tanto na infância de Zezé e Luciano como nos primeiros tempos em São Paulo. Muitas vezes, o desespero batia e Zezé falava em procurar um bico qualquer, em desistir da carreira, mas eu nunca deixei. Seria leviano dizer que a dupla não existiria sem mim, mas posso afirmar que sempre estive na base dessa família e desse império que construímos. Sou também filha de Francisco.
Em 2011, numa das crises da dupla, Luciano chegou a anunciar durante um show que a dupla iria acabar e até parou na UTI de um hospital. O que de fato aconteceu?
Essa é uma história deles, na qual preferi nunca me meter. Alguns amigos até me criticaram, porque na época eu não liguei para o Luciano. Mas entendi que era uma coisa de irmãos, que brigam, rompem, mas acabam se entendendo depois. Tudo o que posso dizer é que a desavença não foi, como se noticiou, nem por ciúme do Luciano em relação ao protagonismo do irmão no palco nem pelo fato de a namorada do Zezé ter estado na plateia naquele dia. Sim, porque disseram que o Luciano ficou irado e saiu em minha defesa.
Essa hipótese não faz sentido?
Sei que não foi isso que aconteceu, embora, ao longo de toda a nossa história, o Luciano sempre tenha estado a meu lado, me apoiando. Ele já me defendeu muito de mulheres que apareciam com o firme propósito de infernizar o meu casamento, telefonando para o meu número e dizendo atrocidades. Quando eu queria ter conversas mais sérias com o Zezé, era ele que tirava todo mundo de perto. Coloquei o Luciano ainda adolescente dentro da minha casa, um cubículo espremido onde, para chegar ao banheiro, era preciso pular o colchão dele. Mesmo assim, apesar de toda a proximidade, nessa relação dos dois podem dizer o que quiserem: nunca me meti.
O que pretende fazer no Brasil?
Depois da temporada no bem-bom em Miami, quero pegar no pesado. Entrei de sócia numa empresa de terraplenagem e vou continuar a gerenciar os negócios que tenho com Zezé. O mundo dos sertanejos será parte da minha vida para sempre. Sou muito próxima de um monte deles. A turma ainda me vê como a mulher do Zezé. Mas essa página eu consegui virar.
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