domingo, 8 de maio de 2011

AMAZONENSES HEROIS DO PASSADO, ESTÃO ESQUECIDOS NOPRESENTE.


Do batalhão de 100 amazonenses que integrou a FEB, 66 anos depois, os que sobrevivem reclamam da falta de atenção.

Os pracinhas José Custódio Dantas, José Tavares de Souza e Antonio da Silva Fogaça, da esquerda para a direita, homenageados pelo CMA Soldados do Comando Militar da Amazônia prestam homenagem aos integrantes da Força Expedicionária Brasileira que lutou na Segunda Guerra (Luiz Vasconcelos/Acrítica)

Há exatos 66 anos um grupo de menos de 100 amazonenses estava de prontidão na localidade italiana de Estofole, próximo de Nápoles, na Itália, ouvindo o noticiário de rádio com apreensão, dúvida e ao final num estado de euforia comparado ao dia da vitória da Seleção Brasileira na Copa de 1958.

Eles estavam entre os 25 mil soldados brasileiros, os Pracinhas, que combateram na Segunda Guerra e souberam em italiano que o conflito acabara com a rendição das tropas do ‘Eixo do Mal’ na Europa, Alemanha e Itália.

“Nós estávamos mobilizados para entrar em combate quando soubemos pelo rádio que a guerra acabou, ai foi aquela alegria, todo mundo pulou, vibrou”, lembra o aposentado José Custódio Dantas, 91.

Oficialmente naquela manhã de 8 de maio de 1945 se encerrou o conflito iniciado em 1939 com a invasão da Polônia pelas tropas de Adolf Hitler.

O terceiro integrante do Eixo, o Japão, só se renderia em agosto de 1945 após a explosão de duas bombas atômicas nas cidades de Hiroshima e Nagasaki.

Passados 66 anos, dizimados pelo tempo, os Pracinhas amazonenses não chegam a 10 e sentem-se esquecidos pela sociedade que desconhece o horror daquele conflito.

“Na sexta-feira eu e meus colegas estavamos conversando sobre isso: nós éramos uns 80, mas na cerimônia de homenagem prestada no Comando Militar da Amazônia (CMA) só apareceram três, eu o Tavares e o Fogaça. Tem uns quatro ainda vivos, mas não saem mais de casa”, conta o aposentado José Custódio Dantas, que serviu na Força Expedicionária Brasileira (FEB).

Natural de São Paulo de Olivença, Custódio conta que se servia no 27º Batalhão de Caçadores (BC) em Manaus quando estourou o conflito e com outros 12 colegas foi transferido para o 34º BC, com sede em Belém, que estava em formação.

Depois de um ano no Pará, a tropa toda foi convocada para a guerra. “Fomos para o Rio de Janeiro e a partir daí começou a tensão e sofrimento”, lembra.

A tensão existia porque submarinos alemães, conhecidos pela sigla U-Boats , haviam afundados navios da marinha mercante brasileira, um deles o Tutóia que saiu do porto de Manaus e ia em direção ao Rio de Janeiro.

Além do temor havia o desconforto, pois o navio nao tinha acomodações para todos e os soldados dormiam no chão e faziam constantes exercícios militares.

Do Rio, onde ficou no 3 Regimento, Custódio diz que logo embargou para a Europa e a viagem foi ainda pior. “Um dia recebemos um aviso de que um submarino seguia o nosso navio, que levava uns 7 mil soldados”, lembra. A FEB embarcou para a Itália em 2 de julho no USS General Mann e a viagem demorou 10 dias.

Colisão entre aeronaves matou amazonense

O único amazonense que morreu na Itália foi o Segundo tenente aviador Waldyr Paulino Pequeno de Melo, que faleceu em uma colisão de duas aeronaves. Ele estava numa aeronave de transporte de carga Dakota C-47 americana que levantou voo para realizar uma cobertura fotográfica de uma esquadrilha brasileira do 1° Grupo de Aviação de Caça. Numa manobra do piloto americano houve a colisão.

O piloto brasileiro se lançou de pára-quedas e sobreviveu ao choque, mas todos que estavam na aeronave americana incluindo um outro aviador brasileiro, o tenente Richmeister, faleceram instantaneamente na queda da aeronave.

O corpo de Waldyr e dos outros brasileiros que morreram em ação foram removidos do cemitério brasileiro de Pistóia, na Itália, e hoje repousam na Cripta dos Heróis, no Parque Aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro.

José Custódio Dantas, ex-pracinha:

“Em três oportunidades estive para ir ao front. Minha unidade ficava em Estofole, na primeira vez só havia 12 caminhões para levar as tropas, iam chamando pelo nosso número, eu era o 517 e não restou mais vagas quando chamaram meu nome.

Da segunda vez eu estava certo de ir, mas um colega cearense apareceu com meningite, uma doença que os norte-americanos temiam mais do que aos soldados alemães.

Os médicos dele vetaram minha ida, queimaram a nossa barraca, nossas coisas e ficamos isolados uns 10 dias fora do regimento. Na terceira vez, um domingo, tava escalado para ir ao combate, mas pelo rádio, pela voz do nosso tradutor, soube que a guerra acabou, foi muita alegria.

Foi coisa, hoje eu sei, de Deus. Minhas missões foram de patrulha, só depois conheci Monte Castelo”.

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