Cientista lidera equipe em laboratório localizado na Tasmânia.
Morte de abelhas ainda é mistério; uso de pesticida é provável causa.
Eduardo Carvalho
Do G1, em São Paulo
Exemplar
de abelha usa microssensor desenvolvido por cientista brasileiro.
Testes feitos na Tasmânia, Austrália, tentam identificar se pesticidas
são culpados pelo sumiço desses insetos, responsáveis pela polinização
natural (Foto: Divulgação/Csiro- Austrália)
Um brasileiro que vive na Austrália pode ajudar, com sua pesquisa, a
responder uma das questões mais intrigantes do mundo científico atual:
por qual motivo as abelhas estão sumindo em várias partes do mundo?
Paulo de Souza, físico de formação, é o pesquisador líder da área de
microssensores da Organização de Pesquisa Industrial e Científica da
Austrália, conhecida pela sigla Csiro. Baseado na Tasmânia, desde
setembro passado ele acompanha um experimento com o intuito de
determinar o que tem impactado a vida desses insetos.
Souza foi responsável por desenvolver um sensor, com tamanho de 2,5 por
2,5 milímetros e peso de 5 miligramas, que é colocado nas costas dos
insetos. Ele funciona como um "crachá de identificação", pois transmite
dados e registra o que acontece com o inseto.
O objetivo do microaparelho é acompanhar passo a passo os movimentos de
5 mil abelhas, examinando a polinização feita por elas e sua produção
de mel. Cada um deles custa cerca de R$ 0,63.
Entre as causas listadas como responsáveis pelo sumiço de abelhas
estão o uso excessivo de pesticidas, excesso de parasitas que afetam
esses insetos, poluição do ar e da água, além do estresse causado pelo
gerenciamento inadequado das colmeias.
Importância
A mortalidade de abelhas ao redor do planeta ameaça ambos os processos.
Entre as possíveis causas já listadas estão o uso excessivo de
pesticidas, como os neonicotinoides, excesso de parasitas que afetam
esses insetos, poluição do ar e da água, além do estresse causado pelo
gerenciamento inadequado das colmeias.
Investigar essas e outras hipóteses é importante, porque pode evitar um
possível caos ambiental. O declínio, de acordo com o pesquisador, põe
em risco a capacidade global de produção de alimentos.
Para se ter ideia, segundo a Organização das Nações Unidas, os serviços
de polinização prestados por esses insetos no mundo – seja no
ecossistema ou nos sistemas agrícolas -- são avaliados em US$ 54 bilhões
por ano. Além disso, 73% das espécies vegetais cultivadas no mundo são
polinizadas por alguma espécie de abelha.
Somente na Austrália, local dos testes, cerca de 17% de todo o alimento
plantado no país, como as frutas, nascem graças à polinização feita
tanto por abelhas domesticadas, quanto por espécies selvagens.
O pesquisador Paulo de Souza segura abelhas que
são utilizadas em testes em laboratório da Tasmânia,
na Austrália (Foto: Divulgação/Csiro- Austrália)
Experimento com pesticidas
Para implantar o sensor nos insetos, os pesquisadores adormecem as
abelhas ao colocá-las na geladeira a uma temperatura de 5ºC. Depois,
usam uma supercola para fixar o microssensor. De acordo com Souza, o
miniequipamento não atrapalha o voo.
Os testes na Tasmânia são feitos com quatro colmeias. Duas vivem no
ambiente natural da região, que é considerada uma das menos impactadas
pela poluição do ar e da água.
Elas estão a um quilômetro de distância de outras duas colmeias, que
recebem constantemente pequenas doses de agrotóxicos neonicotinoides no
alimento (que tem origem na molécula de nicotina).
Esses defensivos agrícolas já foram banidos em alguns países por
suspeita de intoxicar as abelhas, em um fenômeno chamado de “distúrbio
do colapso das colônias”, quando os insetos não retornam às colmeias e
morrem após o corpo sofrer um "curto-circuito" possivelmente devido à
excessiva exposição a determinados compostos químicos.
De acordo com Souza, os primeiros resultados do teste mostraram que as
abelhas com sensores que tiveram contato com os defensivos demoravam
mais para voltar à colmeia – ou nem voltavam. “Os neonicotinoides
alteraram o comportamento delas”, disse Souza.
A meta do brasileiro, que lidera uma equipe com outros 13
profissionais, é desenvolver um sensor de 1,5 milímetro até o fim deste
ano. Em quatro anos, o tamanho atual deve diminuir em 20 vezes, de forma
que será implantado na abelha com a ajuda de um spray.
Testes no Brasil
Ainda no segundo semestre deste ano, a investigação atravessa o oceano e
troca de continente. As abelhas do Brasil serão o alvo da pesquisa,
principalmente as que vivem na Amazônia.
De acordo com Souza, o estudo será feito em parceria com o Instituto
Tecnológico Vale, braço da mineradora Vale que é voltado ao
desenvolvimento sustentável.
Serão implantados entre 10 mil e 20 mil sensores nos insetos para saber
se há algum tipo de impacto negativo que influencie a polinização das
abelhas.