Pesquisadores buscam descobrir a razão da presença frequente de 12 espécies pertencentes à floresta na capital do Amazonas
Uma cena que já se tornou rotineira em Manaus é ver jacarés nas margens dos igarapés poluídos. Além do réptil, é comum a ocorrência de jiboias, preguiças, camaleões, aves como o gavião carijó, socó, mucura e rãs. Esses animais estão na zona urbana, mas não pertencem a ela, explica o doutor em ecologia Ronis da Silveira, da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), coordenador de um projeto destinado a estudar as 12 espécies da fauna silvestres mais encontradas na zona urbana. O objetivo é entender a permanência deles nessa área e, futuramente, elaborar um projeto para administrar esse problema.
Os registros de achados de animais são do Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semmas), que, no ano passado, recebeu 927 animais, sendo três tipos de jacarés, duas de preguiças, camaleão, duas de aves, o gavião carijó e o socó, a mucura, e a rã pimenta. Os urubus do Município de Tefé (a 525 quilômetros de Manaus) estão incluídos no estudo. Alunos de várias faculdades estão envolvidos na pesquisa que está buscando entender como os animais foram afetados para se descobrir as melhores ações para beneficiá-los.
Lixo no Estômago
Um exemplo citado por eles é o dos os jacarés, sobreviventes das águas extremamente poluídas de Manaus. A pesquisa revelou que eles são vítimas em potencial da poluição. É comum encontrar no estômago deles sacos de lixo obstruindo o trato digestivo. “São bolas de lixo em sacos que vão se compactando e causando inúmeros prejuízos a eles”, disse o pesquisador, destacando a importância do réptil como predador de ratos.
O projeto, que conta com o financiamento do Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq), vai trazer benefícios não só para as espécies, mas também para a própria cidade. “Temos que administrar isso de forma adequada e o papel do poder público é importante”, argumenta.
Esses resgates de animais e a iniciativa da população em chamar a Semmas para buscá-los, no caso de cobras e lagartos, segundo Ronis, é importante, mas é preciso avaliar a destinação desses animais. Para ele, Manaus poderia se tornar a capital verde, pelos fragmentos florestais que tem e esses animais poderiam ser inseridos.
Uma ideia é a criação de um espaço para observação desses animais por turistas, que procuram a nossa cidade pelo atrativo da floresta amazônica. “O fato de termos esses animais ainda na cidade deve ser enxergado como coisa positiva, bom para o turista ver”, finaliza.
Pesquisa com jibóias
Uma das estudantes envolvidas no projeto é a bióloga Adriana Bentes, 30, pesquisadora de jiboias, que pesquisa, em nível de mestrado, na Ufam, sobre a vida desse animal. “Os animais são encontrados em todas as áreas da cidade em que se possa imaginar”, explica ela, lembrando que muitos são recebidos com ferimentos graves.
Inédito, o estudo dela se destaca em importância pelo número de animais resgatados. De setembro de 2010 até agora, ela contabiliza o registro de 184 jiboias. “Nosso objetivo é saber porque estão em grande quantidade na cidade, se é pela fragmentação das florestas ou da própria movimentação dos animais, que estão encontrando facilidade em se reproduzir”, observou. Ela aponta que as serpentes, que não são venenosas, estão muito infectadas por carrapatos, outro foco do estudo dela, que se preocupa com que riscos isso pode representar tanto para o animal quanto para o ser humano.
Cetas
De acordo com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semmas), por meio do Centro de Triagem de Animais Silvestres do Refúgio Sauim Castanheiras (Cetas), 65 espécies de diferentes animais já foram resgatados este ano na zona urbana de Manaus.
Jacarés
As espécies de jacarés mais encontrados são o tinga, coroa, pedra e açu. Entre os jacarés que foram resgatados e encaminhados ao Cetas, houve alguns encontrados com até três sacos de lixo no estômago, demonstrando que isso está mudando seus hábitos, pois normalmente esses animais não mastigam.
Resgate
A Semmas recomenda que, no caso de encontrar jacaré, os populares devem imediatamente entrar em contato com o serviço de resgate de animais silvestres da Semmas, por meio do 08000-92-2000 ou através do telefone 3618-9345, do Cetas, do Refúgio Sauim Castanheiras.
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