BRASÍLIA (Reuters) - Na esteira da troca de comando na Casa Civil, a presidente Dilma Rousseff inicia agora a reformulação da articulação política do governo, cuja atribuição ficará concentrada na Secretaria de Relações Institucionais, apesar da incerteza sobre a manutenção do ministro Luiz Sérgio no comando.
Dilma perdeu na terça-feira seu principal auxiliar na interlocução com a classe política, o ex-ministro Antonio Palocci. A crise já estava instalada, depois que vieram à tona informações sobre o aumento de patrimônio do então chefe da Casa Civil.
Agora, com a nomeação da senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) para a pasta, para uma gestão mais técnica, recai um peso maior sobre a Secretaria de Relações Institucionais (SRI), para que faça a articulação necessária com o Congresso.
Segundo um ministro próximo à presidente, que falou à Reuters sob condição de anonimato, antes de pensar numa nova possível troca de ministro, Dilma está preocupada em resolver a coordenação política no seu partido, o PT.
A presidente tem o diagnóstico de que as bancadas petistas da Câmara e do Senado estão passando por forte disputa interna. Entre os deputados, os ânimos estão acirrados desde que o presidente da Casa, Marco Maia (PT-RS), ganhou do líder do governo, Cândido Vaccarezza (PT-SP), a indicação dos petistas para concorrer ao comando da Câmara.
No Senado, a disputa por proeminência faz com que os petistas disputem cada indicação para as comissões ou por relatorias de matérias importantes.
Maia e Vaccarezza não têm bom relacionamento, e a animosidade se estende ao líder do PT, Paulo Teixeira (SP), que não se entende com Vaccarezza. Portanto, segundo esse ministro, antes de trocar Luiz Sérgio, a presidente quer pacificar o PT.
Dilma, segundo uma fonte do Palácio do Planalto, notou os problemas desde a votação do Código Florestal, quer resolver logo o problema e acredita que as seis semanas em que ficou adoecida de pneumonia e as três semanas de desgaste com a situação política de Palocci já atrapalharam demais a gestão do governo.
'HORA DE CALAR'
Nesta quarta-feira, o ministro Luiz Sérgio não quis comentar a sua situação, disse apenas que 'há horas de calar e há horas de falar. Minha hora é de calar.'
A disputa entre os partidos da base aliada pelo cargo do ministro não deve ser problema para a presidente, mas na visão do PMDB ela terá que rever a forma como articulará com o Congresso.
'Eu acho que o Luiz Sérgio tem que continuar, mas essa é uma decisão da presidente', disse o vice-presidente Michel Temer nesta quarta, após uma cerimônia no Palácio do Planalto. Segundo ele, a SRI precisa ganhar mais musculatura e autonomia, já que a nova ministra da Casa Civil se focará na gestão do governo.
'O PMDB não quer a articulação política', disse Temer, acrescentando que ainda não conversou com a presidente, mas pretendia falar em breve.
Um ministro com experiência no Congresso avalia que a presidente vai tirar a SRI do papel 'subalterno' que ela tem hoje e escolherá um novo ministro 'com muita legitimidade na Câmara e que dê segurança política ao governo', disse, pedindo para não ter seu nome revelado.
Na terça-feira, a cúpula peemedebista jantou no Palácio do Jaburu, residência oficial do vice-presidente, e acertou os ponteiros. Não pretendem indicar um substituto para Luiz Sérgio se ele sair, mas querem ser ouvidos nas decisões do governo e debater antes de fechar posições sobre matérias que tramitam no Congresso.
Antes de assumir o cargo, as principais críticas à Dilma já estavam concentradas no pouco traquejo político da ex-guerrilheira. As dificuldades na área não demoraram a aparecer nos primeiros meses no comando do país, como a rebelião na base de apoio na votação do Código Florestal.
Para resolver os problemas no PT, Dilma convocou o presidente do partido, Rui Falcão (SP), o próprio Luiz Sérgio e ministros próximos. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve que intervir também e, em Brasília, pediu união da base. Nas últimas semanas, Dilma também se esforça para melhorar a relação com o Senado e passou a se reunir em almoços com as bancadas da Casa.
Nesses encontros, a presidente tenta demonstrar que o governo está aberto a sugestões dos parlamentares e argumenta que não procurou os aliados antes por conta das viagens internacionais e dos problemas de saúde decorrentes da pneumonia.
Entre os aliados do Congresso, a avaliação é que a presidente está recomeçando o mandato presidencial ao mudar o perfil da Casa Civil e ao ser obrigada a dar mais importância para a articulação política.
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